segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Visio Divina do Ícone de São Bento de Núrsia.

Perfeito 🙏 Muito obrigado por me avisar. A partir de agora, em todos os seus textos, vou sempre usar 


Visio Divina do Icone de São Bento de Núrsia


1. Olhar (Visio)

O ícone apresenta São Bento com semblante sereno, vestindo o hábito monástico e segurando o báculo do abade — sinal de guia espiritual e pastor da comunidade.
Na outra mão, ele ergue um livro aberto, representando a Regra de São Bento, fonte de sabedoria que estruturou a vida monástica no Ocidente.
Seu rosto austero e misericordioso, cercado pelo nimbo dourado, comunica santidade e autoridade espiritual.
Na parte inferior, pequenas cenas narram episódios de sua vida: oração, milagres, ensino e o cuidado com os monges.

2. Escutar (Lectio)

> “Escuta, ó filho, os preceitos do Mestre e inclina o ouvido do teu coração; acolhe de bom grado e cumpre eficazmente o conselho do pai carinhoso, a fim de que voltes, pelo trabalho da obediência, Àquele de quem te afastaste pela desídia da desobediência.”
(Regra de São Bento, Prólogo, v.1-2)



> “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim.”
(João 15.4)


3. Meditar (Meditatio)

O ícone nos convida a perceber São Bento como mestre espiritual. O livro que ele segura é símbolo de disciplina e caminho. Não é apenas um código, mas um mapa para o coração: escuta, obediência, humildade e oração.
A Regra começa com a palavra “Escuta”, como a própria Bíblia. Escutar é a primeira atitude do discípulo.
O rosto de Bento transmite a tensão entre rigor e ternura: firmeza na direção espiritual, mas também cuidado paternal pelos monges.
Ele aponta para Cristo como a verdadeira videira, onde a comunidade encontra vida e unidade.
No ícone, vemos que a santidade não é isolamento, mas comunhão ordenada, vida partilhada em oração e trabalho.


4. Orar (Oratio)

> Senhor, ensina-me a escutar com o ouvido do coração.
Que eu receba a Tua Palavra não apenas com a mente, mas com a vida.
Dá-me espírito de obediência, não servil, mas livre em Ti.
Guia-me, como guiaste São Bento,
a unir oração e trabalho, silêncio e palavra, disciplina e ternura.
Faze do meu coração um mosteiro,
onde Tu habites e sejas adorado.
Amém.


5. Contemplar & Viver (Actio)

Hoje guardo esta palavra:
“Ora et labora” – Ora e trabalha.

São Bento ensina que a vida cristã é equilíbrio: oração profunda enraizada em Cristo e trabalho humilde que se torna liturgia da vida.
O ícone me convida a transformar o cotidiano em altar: lavar, escrever, ensinar, servir, cozinhar, orar — tudo pode ser caminho de santificação.
Contemplar é também ordenar a vida, deixando que Cristo seja o centro.


quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Protestante pode ser monge?

A Possibilidade de um Monge Protestante segundo Lutero

I. Contexto e Perspectiva de Lutero

Martinho Lutero, ele próprio monge agostiniano, criticou o sistema monástico medieval exatamente porque este se afastara do evangelho bíblico. Sua obra “Sobre os Votos Monásticos” (De votis monasticis, 1521) destaca que os votos monásticos não encontram respaldo nas Escrituras e promovem uma espiritualidade baseada em obras, e não na fé. Ele chega a afirmar:

> “Não há dúvida de que o voto monástico é, em si mesmo, uma coisa extremamente perigosa, porque está sem autoridade e exemplo da Escritura. [...] Os primeiros séculos e o Novo Testamento nada sabem sobre esse tipo de voto; muito menos o aprovam.”
(Lutero, The Judgment of Martin Luther on Monastic Vows, LW 44:252) 

Além disso, acrescenta:

> “Agora, deve-se ver de modo geral que os votos monásticos não estão na fé. Teve-se provado, por testemunhos irrefutáveis, que tudo o que não vem da fé é pecado; e que somente a fé é que efetua o perdão dos pecados e restabelece certeza, serenidade e liberdade de pecados na consciência.”
(LW 44:279) 

Essas declarações sublinham que o cerne da crítica de Lutero não era a vida monástica em si, mas sim os votos permanentes que, segundo ele, desviavam do princípio do evangelho de justificação somente pela fé.

II. Há Espaço para uma Vida Religiosa “Protestante”?

Apesar de sua crítica contundente, Lutero reconhecia nuances:

Ele notava que algumas práticas monásticas originais — como a vida comunitária em obediência, pobreza e celibato — eram adiaphora (não eram nem moralmente obrigatórias nem proibidas). 

O Artigo XXVII da Confissão de Augsburgo menciona que os pureiros originais tinham bons propósitos, mas que os votos se corromperam:

> “Nas histórias dos eremitas há exemplos de Antônio e outros que tornam justos os variados modos de viver. A vida do eremita não é condenada, apenas como os romanos abusaram do seu exemplo.” 

E o Artigo III dos Artigos de Schmalkalden reforça que os votos monásticos violam o artigo fundamental da fé, tornando-se equivalentes a batismo—algo que Lutero considerava blasfêmia. 


Por fim, observações modernas mostram que há formas de espiritualidade monástica reinventadas dentro do protestantismo—como ordens dispersas que enfatizam simplicidade, oração comunitária e serviço, mas sem votos permanentes que impliquem superioridade espiritual. 

Conclusão:

Lutero rejeitava votos monásticos permanentes por colocarem a obra humana acima da graça.

Porém, não negava o valor de uma vida devota, comunitária ou de oração — desde que não se proclamasse superior por isso.

Uma “vida monástica protestante” poderia existir, mas reinventada: sem votos absolutos, valorizando a liberdade cristã e a igualdade de chamados de todos os crentes.


Perguntas Devocionais

1. Como posso cultivar uma vida devota e comunitária — como de um monge moderno — sem cair na tentação do orgulho espiritual ou da autossuficiência?


2. De que modo o princípio da “justificação só pela fé”, defendido por Lutero, impacta minha vocação religiosa ou minha busca por santidade em comunidade?


3. Que práticas (oração, estudo bíblico, vida comunitária) podem sustentar uma vida espiritual profunda, sem depender de votos permanentes ou exclusividade de estado?



segunda-feira, 1 de setembro de 2025

A obediência segundo São Bento

A Obediência segundo São Bento

A obediência é uma expressão concreta da fé. O apóstolo Paulo nos lembra: “Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como quem deve prestar contas” (Hebreus 13.17). Mais do que uma obrigação, a obediência é sinal de confiança em Deus e caminho de crescimento espiritual.

São Bento, fundador da Ordem Beneditina no século VI, escreveu sua famosa Regra como guia para a vida monástica. Para ele, a obediência não era apenas seguir regras humanas, mas submeter a própria vontade à vontade de Deus. Ele acreditava que a disciplina da obediência molda o caráter e nos ajuda a discernir a vontade do Senhor.

Conta-se que São Bento orientava seus monges com firmeza e amor, dizendo que “quem obedece não apenas ao mestre, mas a Deus, caminha na verdadeira liberdade”. Sua vida foi marcada pela humildade e pelo cuidado pastoral: ao ouvir os conselhos de seus mestres, ao servir os irmãos e ao seguir fielmente a oração diária, ele experimentava a paz e a alegria que só vêm da obediência a Deus.

A Regra de São Bento valoriza a oração, o trabalho e a comunidade, mas sempre com o espírito da obediência. Isso nos lembra que toda disciplina cristã não é um peso, mas um caminho para a liberdade em Cristo: “Porque o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem o conhecimento e o entendimento” (Provérbios 2.6). Quando obedecemos, não perdemos nossa liberdade; pelo contrário, abrimos espaço para Deus nos guiar e transformar.

Para nós, protestantes, a obediência não se reduz a normas externas, mas é fruto de um coração rendido à graça de Deus. A vida de São Bento nos inspira a cultivar a obediência diária: ouvir a Palavra, submeter nossa vontade à de Deus e servir ao próximo com humildade e alegria.

Oração

Senhor,
ensina-nos a obedecer a Ti com fé e alegria.
Como São Bento, que possamos ouvir Teus conselhos,
submeter nossa vontade à Tua e viver em comunidade com amor.
Que nossa obediência seja fruto de confiança,
e não de medo,
transformando nossa vida e aproximando-nos de Ti.

Em nome de Jesus,
Amém.



terça-feira, 15 de julho de 2025

Não a nós, Senhor, não a nós.



O espírito da vida beneditina nos ensina que, ainda que temendo a Deus e vivendo a boa observância da Regra, devemos nos guardar de todo orgulho, reconhecendo de modo absoluto que tudo de bom que temos e fazemos não procede de nós mesmos, mas é uma graça concedida por Deus. Deste modo oremos sempre com nosso coração "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim pecador" e ainda "Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Teu Nome seja dada a glória".

Deus os abençoe e tenham um dia frutuoso na presença Dele.

Frei Hortelão 

Ora et Labora

Pax



Imagem: Rafael Barbosa

<https://www.instagram.com/rafaelbarbosa_aju?igsh=MXMzdGc2bjl6dnZxNQ==>


quarta-feira, 1 de maio de 2024

O SILÊNCIO MONÁSTICO



 O SILÊNCIO MONÁSTICO

Fonte: Mosteiro beneditino Anglicano: https://demonjesymonos.com/2020/01/13/el-silencio-monastico/


SILÊNCIO MONÁSTICO COMO INÍCIO DA SABEDORIA

Passei uma semana praticamente em silêncio no meu refúgio monástico na Baviera, conhecido como a Arqui-Abadia de Santa Ottilien pelas missões beneditinas. É uma das maiores abadias beneditinas da Europa. No meio do inverno é calmo, tranquilo e você pode até ouvir seus próprios pensamentos. Optei por evitar as redes sociais esta semana e manter minha correspondência ao mínimo. Eu realmente estive sozinho comigo mesmo. O silêncio é apreciado.

Estou lendo uma introdução à Regra de Bento escrita por Michael Casey e David Tomlins para uso em treinamento nos círculos beneditinos. Escrito para a Segunda Edição de 2008 da União Beneditina da Austrália e Nova Zelândia, as suas ideias sobre a regra são profundas e revigorantes. Um dos principais princípios e práticas monásticas é viver uma vida rodeada de silêncio. O silêncio no sentido monástico é interno e externo. A Regra de Bento XVI dedica várias seções à compreensão monástica do silêncio.

Esta semana, no meio do barulho da política, da quase guerra com o Irão, dos incêndios devastadores na Austrália, da queda acidental de um avião de passageiros pelo Irão, estou perfeitamente consciente do volume de barulho que enfrentamos nos tempos modernos. Minhas longas caminhadas pela Baviera rural no Mosteiro me fizeram perceber como facilmente perdemos a visão panorâmica correta do mundo e de nós mesmos. De repente, olhando para o vasto céu e para os campos abertos, percebo que não sou o centro do Universo, mas uma parte delicada do todo. Estou muito conectado com tudo e todos no planeta. Estou falido quando o planeta está quebrado. Estou saudável quando o planeta está saudável. Não é de admirar que a maior parte da Terra que vive num ambiente urbano, incluindo eu, se esqueça tão facilmente dessa verdade profunda.

O ruído como intrusão de calma, paciência e serenidade.

O ruído não se trata apenas de dizíveis. O ruído que enfrentamos no mundo hoje é visual e audível. É tátil e também palpável. Estamos tão imersos no barulho que nem percebemos que o silêncio existe. A constante enxurrada de imagens em nossos telefones, dispositivos e telas. O trânsito, as conversas, a retórica política, as notícias falsas, o cyberbullying também fazem parte do ruído diário que temos de suportar na sociedade atual. Este NÃO era o caso há 50 anos. Memória. O único barulho era o do rádio e da televisão quando ligados, e isso era menos frequente do que hoje.

A sabedoria do silêncio

Talvez apenas o silêncio possa ser o corretivo para a nossa visão míope.

O silêncio, assim como a humildade, nos torna menos importantes.

O silêncio nos convida a entrar em nós mesmos e nos obriga a ouvir nossos pensamentos íntimos.

O silêncio nos convida a ouvir e não falar.

É muito difícil falar e ouvir ao mesmo tempo.

O silêncio é um grande remédio para o imenso sofrimento que suportamos atualmente e que podemos continuar a suportar no mundo.

Movendo-se para o silêncio, os cinco sentidos.

Outro dia pratiquei um exercício simples que permite ficar em silêncio onde quer que esteja e a qualquer hora. É um exercício nos cinco sentidos.

Sentado em um lugar confortável, com os olhos abertos, você começa a entrar em contato com seus cinco sentidos, visão, paladar, tato, audição, olfato. Comece com qualquer um dos sentidos. Que gostos estão na sua boca? Seco? Molhado? O que você cheira? O que você ouve? De onde vêm os sons e cheiros? Observe o que o rodeia. Concentre-se por um tempo em uma imagem e observe todas as suas propriedades. Quais são as suas sensações físicas em seu corpo? O que você pode sentir e não sentir? Este exercício dos cinco sentidos traz imediatamente ao momento presente e ajuda a estar atento ao silêncio que sempre nos rodeia.

Silêncio monástico

O silêncio monástico corrige impressões negativas em nossas vidas através do ruído em todas as suas diversas formas. O silêncio monástico consiste em criar novas “impressões” na alma através da beleza, da música, da natureza, de símbolos ou ícones religiosos, do espaço, do tempo sozinho e isolado, do tempo comendo em silêncio com os outros, do tempo observando cuidadosamente todo o nosso ambiente, plena atenção. e atenção em cada momento e circunstância.

Não precisamos ir a um mosteiro para ter ou experimentar o silêncio monástico, tanto quanto é útil e recomendo visitas regulares ao claustro local. A prática do silêncio em nosso próprio ambiente é uma opção aberta para a maioria de nós. Talvez não com a frequência que gostaríamos. Mas o silêncio está geralmente disponível para todos nós, pelo menos diariamente, se não várias vezes, nos nossos movimentos e rotinas diárias. Chegue cedo ao escritório, antes que outros cheguem. Passando por uma igreja local que está aberta para ir ou voltar do trabalho. Visite um parque ou playground local. O tempo que passamos sozinhos em nossos carros. Tarde da noite. De manhã cedo.

Indo para a sinfonia. Encontre um canto tranquilo para fazer uma refeição saborosa e saudável sozinho. Até assistir sozinho a um bom filme que enriquece a alma pode ser uma forma de silêncio. Ouça uma palestra ou apresentação de alguém que seja sábio e dê bons conselhos ou ensinamentos. Ler um bom livro cheio de alma. Temos tantas opções de silenciamento ao nosso alcance, onde o ruído pode ser deixado de lado e ignorado por curtos e até longos períodos de tempo. É claro que a Oração é ficar quieto diante da Presença Divina. Michael Casey diz que falar demais, o ruído interno (multiloqium) na oração impede a experiência de compunção da qual nasce a contemplação.

O silêncio monástico requer disciplina, tempo e atenção. Mas é ouro. Devemos reduzir o tempo e o espaço em todas as nossas agendas para o verdadeiro silêncio. Televisões Os telefones (celulares) e as telas (computadores) devem ser propositalmente reservados para períodos escolhidos de verdadeiro silêncio. Esta não é uma opção. A interrupção constante deve ser interrompida pelo menos em alguns momentos do nosso dia para recuperar a compostura e retornar aos nossos centros, ao nosso verdadeiro eu. Mentes ativas também devem se acalmar. O ruído é interno e externo. Quando o ruído interno para em alguns dias? Até dormir isso é um desafio para o ser vivo moderno.

Restrição e moderação

Contenção e moderação são termos monásticos, não termos modernos. Estão longe de serem negativos ou mesmo limitantes. Eles nos libertam para tantas possibilidades na vida.

Quando não estamos completamente cheios, mas parcialmente vazios é quando começamos a desfrutar das sensações que nos rodeiam, sejam elas físicas ou emocionais. Cheio significa que não há espaço para mais nada. Moderação e moderação significam abrir espaço suficiente para Deus, para a graça, para a graça, para o prazer. Para mim. Vivemos numa época em que a moderação e a contenção são quase inéditas. Estamos acostumados a ficar satisfeitos e satisfeitos quase imediatamente em tudo e em todos os sentidos. A moderação monástica é praticada diariamente no mosteiro. Já foi dito que você conhece um verdadeiro monge pela maneira como ele fecha uma porta. Tem a ver com a maneira como um monge caminha e vai de um lugar para outro sem pressa. É visto nas refeições quando os monges servem uns aos outros com gentileza e com gestos suaves e não ásperos. Fica com um vestido simples e prático sem competição pelo hábito mais atraente!

A restrição e a moderação fazem do QUARTO o silêncio em nossas vidas.

Não há nada mais contracultural do que o silêncio.

Ao abraçarmos seriamente o silêncio nas nossas vidas, nadamos contra a corrente e caminhamos contra a corrente da maioria da humanidade. Não há nada de errado nisso. A vida e as práticas monásticas são projetadas para seguir em outra direção. Eles não são para todos, mas devemos adotá-los em doses razoáveis ​​para que mais de nós recuperemos a sanidade e o propósito na vida.

Pare e cheire as rosas.

O silêncio nos rodeia quando o buscamos com determinação e prazer.

Cada vez que visito o meu refúgio na Baviera, esta comunidade beneditina convida-me silenciosamente. Desacelerar, observar, ouvir, provar, tocar, cheirar, ver. Para sentar-me calmamente comigo mesmo e sozinho. Para renovar minha amizade com Deus. O silêncio monástico é o início da sabedoria e o caminho para a verdadeira satisfação.

Pax Bene


segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Monjas Beneditinas Protestantes

Monjas Beneditinas Protestantes

        As monjas da Comunidade Beneditina Anglicana na Abadia de Santa Maria, West Malling, (Reino Unido) refletem sobre a sua vocação e as alegrias e desafios do seu modo de vida. 

        Neste pequeno documentário , dirigido por Jamie Hughes, as vozes das freiras são complementadas por imagens da vida da Abadia