sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

A Vida de Bento de Núrsia Parte 1 - Texto adaptado do livro do Pastor Edson Sardinha - A Vida de Bento de Núrsia - Uma Vida de Sinais e Maravilhas

Excelente vídeo sobre a vida dos monges beneditinos

 

A Vida de Bento de Núrsia – Parte 1

Introdução

A fonte de todos os acontecimentos da vida de São Bento são os Diálogos de São Gregório Magno (540-604), redigidos por volta de 593, que se baseou em fatos narrados por monges que conheceram pessoalmente São Bento.

Por este motivo, neste simples trabalho, parafraseei o livro de Gregório Magno para que nosso conhecimento seja totalmente baseado em fontes históricas primárias, visto que Gregório é o seu primeiro biógrafo. Todas as demais biografias se baseiam diretamente nos Diálogos.

Em seus Diálogos, Gregório conversa com um discípulo chamado Pedro. Após os milagres narrados, Pedro fez perguntas e Gregório responde com citações Bíblicas apropriadas. Este diálogo com Pedro eu omiti para dar mais fluidez ao texto como narrativa histórica e alterei algumas palavras com o mesmo objetivo. No demais, o texto permanece íntegro.

Aconselho, porém, a leitura dos Diálogos para conhecer as respostas de Gregório e suas bases bíblicas.

A Vida de Bento de Núrsia

 “Houve um varão de vida venerável, Bento; tanto pela graça quanto pelo nome, que desde a infância possuía um coração maduro. Superior, pelo seu modo de proceder, ao verdor da idade a nenhuma volúpia entregou seu coração, e assim, enquanto se achava nesta terra, da qual por algum tempo pudera gozar livremente, desprezou, como já murchas, as flores do mundo” (Prólogo de Gregório Magno ao segundo Livro dos Diálogos).

Gregório narra a vida de Bento através de quatro discípulos seus: “Constantino, homem respeitabilíssimo, que lhe sucedeu na direção do mosteiro; Valentiniano, que regeu por muitos anos o mosteiro do Latrão; Simplício, que foi o seu segundo sucessor na direção da comunidade; Honorato, que até hoje dirige o mosteiro onde Bento antes viveu” (Prólogo).

I.                  A Fuga do Mundo

Bento nasceu em uma família nobre da província de Núrsia, Itália. Muito cedo, foi enviado a Roma para o estudo das belas letras.

Em Roma ficou escandalizado com tanto pecado que entendeu que poderia se desviar do caminho do Senhor. Por isso resolveu abandonar os estudos, sua casa e seus bens e procurou o monaquismo.

Resolveu procurar um lugar ermo e foi seguido por sua aia (que ajudou a cria-lo e o amava como filho). 

          Chegaram, assim, a certa localidade chamada Enfide, onde, “entretidos pela caridade de muitos homens de virtude, ficaram morando junto à igreja de S. Pedro Apóstolo”.

Um dia, a ama pediu às vizinhas que lhe emprestassem um crivo para limpar o trigo; tendo-o, porém, deixado descuidadamente sobre a mesa, o crivo caiu e se quebrou, ficando partido em dois pedaços. Logo que voltou e o encontrou nesse estado, a mulher começou a chorar muito, aflita por ver quebrada a vasilha que tomara de empréstimo. Quando, porém, Bento encontrou a ama chorando, compadecido da sua dor, pegou os dois cacos do vaso, e, levando-os consigo, entregou-se à oração com lágrimas. Quando se ergueu da oração, viu junto de si o crivo de tal forma íntegro que nenhum vestígio se podia descobrir da fratura. Então, pronta e carinhosamente consolou a ama, devolvendo-lhe são o vaso que levara em cacos.

 Bento, procurando uma vida de silêncio e sacrifício, longe dos elogios e louvores do mundo, fugiu ocultamente da ama e foi dar a um retiro deserto, distante de Roma cerca de quarenta milhas.

Quando para ali se encaminhava em fuga, encontrou certo monge de nome Romano, que lhe perguntou aonde ia.

Ciente do seu desejo, não só guardou segredo mas ainda lhe prestou ajuda e deu o hábito do monacato, servindo-o no que podia.

          Chegado a tal lugar, o homem de Deus recolheu-se à apertadíssima gruta, onde morou três anos ignorado de todos, excetuado o monge Romano.

            Este último vivia num mosteiro próximo, sob a regra do abade, a cujo olhar piedosamente furtava algumas horas para levar a Bento, em determinados dias, a parte de pão que conseguira subtrair ao próprio consumo.

Não havia caminho do mosteiro de Romano à gruta, por causa de alto rochedo que em cima da gruta fazia saliência; mas Romano, do alto dessa pedra, costumava fazer descer o pão pendurado a uma corda comprida a que prendera uma campainha para que o homem de Deus, ao ouvir-lhe o toque, soubesse que era a hora de baixar o alimento, e saísse a tomá-lo.

 Um dia, porém, quando o pão era descido, uma pedra caiu e quebrou a campainha. Romano, não obstante, não desistiu de prestar por meios aptos o seu serviço.

O Senhor apareceu a certo presbítero que morava longe e acabava de preparar, no dia de Páscoa, a própria refeição; disse-lhe: “Preparas delícias para o teu próprio gozo, enquanto o meu servo em tal lugar é atormentado pela fome'.” O sacerdote levantou-se imediatamente e no próprio dia da solenidade de Páscoa, com os alimentos que para si preparara, saiu na direção indicada, procurando o homem de Deus através dos montes escarpados, pelos vales e fossas do terreno, até que o achou escondido na gruta.

Depois de orarem, assentaram-se agradecendo a Deus. O presbítero disse: “Eia, tomemos alimento, porque hoje é Páscoa”. Respondeu-lhe Bento: “Sei que é Páscoa, pois mereci a graça de te ver”.

Morando longe dos homens, Bento ignorava que a solenidade pascal era naquele dia; mas o venerável presbítero de novo lho asseverou: “Em verdade hoje é Páscoa, o dia da Ressurreição do Senhor. De modo nenhum te fica bem jejuar, pois aqui fui mandado justamente para que juntos partilhemos as dádivas de Deus todo-poderoso”. Louvando, pois, o Senhor, tomaram alimento; e, finda a refeição e a conversa, voltou o padre para a sua igreja.

2. A Fama de Bento

Por esse mesmo tempo também alguns pastores o encontraram escondido na caverna. Vendo-o entre arbustos, vestido de peles, julgaram a principio que fosse um animal selvagem; mas, quando ficaram conhecendo o servo de Deus, muitos se converteram da sua mente animal para a graça de uma vida piedosa. Assim o nome de Bento tornou-se conhecido pelos arredores; já desde então Bento começou a ser visitado por muitos que, trazendo-lhe a refeição para o corpo, levavam, em troca, nos corações, o alimento de vida que procedia dos lábios do santo.

 

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